Que há um gosto em mim em passear
no passado é mais que notório. Assisto de mim.
Sensatez demais, comedimento
demais, amarras e empecilhos, vivencias terríveis – e minha vida foi perdendo o
sentido, me joguei num beco escuro molhado e com baratas. Por vezes ficava
esperando a fera que imaginava existir dentro de mim. E colocava tudo a perder.
Cavando-me me torno de
incertezas, abismos. Temo que isso pareça chorão demais, lamurioso para quem um
dia ler. Mas não tenho outro modo de anotar os desassossegos daqueles anos sem
Deus. Tudo quanto puder irei registrar, sem pretensão futura, nada importa – o
belo e o bom – o terrível e o inconfessável – até o aviso de febre e frisson
que essas divagações indigentes, devidamente picotada dentro da minha alma
habita. Me consola que o amanhã será a liberdade. Alguém há de ler isso e o
sentimento desse momento será partilhado e destruído. Por isso que escrevo,
escrevo, escrevo. Para que nada senão cinzas do que foi o movimento da minha
vida de alguns anos. Porque algumas vezes fui bailarina e pagã; outras casta e
melancólica. Já fingi outras identidades, nomes e sobrenomes fictícios, eu me
aberrava de mim. Até hoje não me alcanço entender o que se encontrava na
dissolução e na insolvência moral em que me meti, ainda que por breve tempo – o
espirito. O motivo para tamanha barbárie? O mesmo das tragédias do mundo –
ciúmes, desesperações de amor, inconsistência de mim...Ainda penso que ser o
que atravessa a vida olhando pra trás de si e tendo pena...Penso com os olhos e
ouvidos. Eu sinto a verdade e sou feliz. E meus pensamentos são todos sensação.
Eu sinto que sou o ar que flutua tendo por cima o céu e, a agua por baixo. Quem
me dera ser o pó das estradas ou a madeira do barquinho que flutua totalmente
em contato com a agua. Queria muito ser a flor que não pode esconder sua cor. E
eu queria...
Para meu grande e fiel amigo Daozin...Não dizer que só foi um! Foram dois.