sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Decisores da Exploração

Se eu fosse Deus e se eu existisse entrava naquela bolha de ar que se formava com a chuva. Aquele pingo dàgua que caira sobre a arvore escorrendo pela folha e a expulsava para o asfalto, chegando ao chão formava a bolha que descia lentamente bailando como se aquele momento pertencesse somente a natureza. Ela dançava como os jogos de pin boll das maquinas dos parques de diversão, a bolha batia num pequeníssimo degrau do asfalto, e rodava, rodava e eu a seguia, imaginando sua leveza. Pura inveja!  No plano capitalista que adotamos, a morte da pessoa so interessa os filósofos. A morte da mente não do corpo é preenchida pela saturação, apodrece, explode.
E lá se vão passando os pequenos cidadãos, tímidos sem se importar com a alagação, com suas humildes mochilas molhadas, enquanto os filhos dos novos ricos (neocapitalismo) assistem a tudo secos, com seus seguranças e suas S.U.V lançamentos. Pelo retrovisor assisto as inundações, trânsito bloqueado, gente desesperada presa dentro dos carros parados, gente enlouquecendo pela dificuldade de tocar o dia a dia. Gente que sente no corpo e na alma os efeitos de viver sob uma cúpula negra que determina sua alienaçao. Parece uma guerra, mas é só o capitalismo: bombando, enriquecendo alguns e empobrecendo o resto. Enquanto a cidade se torna infernal, se oferece aos que podem pagar o lenitivo de viver num condomínio imitando a Europa, ou nos mega apartamentos  bem acima do chão, de onde se finge escapar da realidade urbana, econômica que deixa a língua arder de tanta ilusão. Polenguinhos, danoninhos, 50,00 na mao de crianças de 8/9 anos na cantina da escola, mas parecendo: pouca farinha? Meu pirão primeiro...
Contrapondo a professora que diz não entender meus usos materiais, onde ela se dedica horas a fio trabalhando para vestir-se elegantemente, comprar um Apto na Torre Del España num bairro nobre, eu simplesmente apareço maltrapilha, na frente dos BACANAS dos outros pais. Ela me afirma que isso tem a ver com: A pessoa é o que aparenta! Hahaha...Lamento, coisa do capitalismo também.
Cara professora, nas histórias de fadas, a torre era o lugar onde se encarceravam as princesas!
Meu marido parou de reclamar do meu modo de ser, mas parou tambem de me convidar para suas festas de oba oba com seus colegas de trabalho, diretores, gerentes etc. Tomara que ele tenha percebido que isso me desagrada. Sou a mesma velha, teimosa, do clube dos que não aceita passividade dos sujeitos alienados. Tinha antes ir ao cabeleireiro para maquiagem, unhas, cabelos...Que alivio, que desespero do proletariado que dependia de mim... Não participo dos salões neoclássicos, preservados, lindíssimos que se fazem as grandes festas. A cidade não me vê. Nada se provou ate agora sobre as teorias econômicas, socialistas, comunistas, capitalistas. Tudo é um degrau e a cidade se adapta a teoria capitalista. Deus não precisaria ser socialista. Nem comunista. Bastaria agir em nome de um valor que está presente em todas as perspectivas sagradas, religiosas ou simplesmente humanistas: em nome da delicadeza. Bastaria considerar que as cidades não existem para impressionar e oprimir as pessoas, mas para ampliar a esfera da liberdade, das possibilidades e daquilo que se costuma chamar de urbanidade. Sinto falta de encontrar o gato que espia pelo vidro de uma janela. Acho a bolha da chuva,no asfalto, correndo para algum lugar ate explodir e vão se formando outra, porque nesse mundinho que criaram pra nós e nos levamos a frente, todos estamos alienados. Meu amor, você tem o privilegio de  não me ver pelada por ai porque a lucidez ainda me contempla sem ir ate o corte absoluto.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Senso de identidade

REFLETIR PARA EVOLUIR
Primeiro levaram os negros,

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários,

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis,

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados,

Mas, como tenho o meu emprego,

Também não me importei

Agora estão me levando,

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém,

Ninguém se importa comigo.
Berthold Brecht