terça-feira, 30 de setembro de 2008

Pisei no impróprio?

Estranho? Por que estranho?

Louca por que? O por quê de ser louca?

Julie, tu pensa demais!!

Eu desci do carro e pisei no coco, na merda literalmente. Era marrom clara, era merda de cachorro, e dos grandes. Fedia muito. Melei toda a sandália de strass.
Me perguntei: e agora? Jogar fora a sandália, ou tentar limpa-la com lenço?

Naqueles segundos que antecederam minha decisão - um murmúrio negro -

Vou experenciar algo considerado pelos 'normais' - LOUCO -

Tirei delicadamente a sandália. Pisei diretamente com meus pés. Usei os dois.
A umidade de um paraíso. Precisei saber exatamente isto: estou sentindo o que estou sentindo, ou estou sentindo o que eu queria sentir?
Estava ali, bem melimetrado para que eu pisasse. Pois a diferença de um milimetro é enorme, é este espaço de um milimetro pode me salvar pela verdade ou de novo me fazer perder tudo o que via. É perigoso -disse meu marido.
O que seria tão perigoso como excretar o que se sente?
O inferno pelo qual eu passara -como te dizer? - é a experiência da merda e da degradação e da alegria pior.
Eu esmaguei aquele estrume com meus dedos, senti a maciez do solido com a agua, nada me doeu-espantei meus ódios e amores. Entendia eu que aquilo que eu experimentara, aquele núcleo de rapacidade infernal, era o que se chama amor. E diante da merda, da bosta, do qual a palavra amor é um objeto empoeirado, fedido?
As flores nascem no esterco e são puras e perfumadas.
Eu não sabia que do sofrimento se ria. E eu chamo de alegria o meu mais profundo sofrimento. E no soluço o Deus veio a mim, o Deus me ocupava toda agora. Eu oferecia o meu inferno a Deus. O primeiro soluço fizera - de meu terrível prazer e de minha festa.
PROVAÇÃO. Agora entendo o que é a provação. Provação significa que a vida esta me provando. Mas provação: significa que eu também estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais saciável.
Espera por mim: vou te tirar do inferno a que eu desci. Ouve, eu não sou TU, mas mim é TU. Só por isso jamais poderei Te sentir direto: porque és mim.

O que ganhamos em recolher o sofrimento dos outros?
Aquilo não me foi um sofrimento. Eu gostei!

É uma loucura de alegria.
Não me julgues louca por isso. Os meus defeitos são meus. Não há razão para você se aborrecer comigo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Eu matei a vida!

Estou desde as 03:00 da manha acordada. Me fez mal demais... Fui ao médico porque entrei em choque. Mas, lembro-me das palavras de amigos. Aquilo que ouvira não me consolava.
Hesitei em compreender, olhava surpreendida. Foi aos poucos que compreendi o que se sucedera: eu nem havia dado a marcha-à ré, soltei a porra do carro, e silenciosamente, foi esmagando e que ainda deixara o vivo. Eu não podia mais avançar, tão pouco retroceder. Mas, ainda estava ali, vivo. E olhando para mim. Desviei violentamente meus olhos em repulsa própria. Emergia de um mundo desconhecido ate então. Ainda faltava então o golpe final. Um golpe a mais?
Eu não olhava, mas me repetia que um golpe ainda me era necessário. Eu repetia como que cada repetição tivesse por finalidade dar uma ordem de comando às batidas do meu coração. E eram espaçadas demais como uma dor da qual eu não sentisse o sofrimento.
Ate que - conseguindo me ouvir, enfim conseguindo me comandar - ergui a mão bem alto e como se meu corpo todo, também fosse cair em peso sobre a porta do carro.
Minha mão foi, que se abaixara ao desistir do golpe final, foi aos poucos subindo de novo lentamente ate o estômago: se eu mesma não me movera do lugar, o estômago recuara para dentro do meu corpo.
Como chamar aquilo? Desastre, acidente? Qual nome darei à aquilo? Assassina? Descuidada?
Estava recuando para dentro de mim como uma náusea. Estava caindo em uma lama, umida e viva, era uma lama que se mexia com lentidão insuportável às raízes da minha identidade.
Era isso - era isso entao - É que eu olhava o cachorrinho vivo, se contorcendo e nele descobria a identidade de minha vida mais profunda. Em derrocada difícil, abriam-se dentro de mim passagens duras e estreitas.
Eu não conseguia ficar sozinha com minha agressão. Foi então que desmaiei. Lentamente, ouvira os sons de duas ou três pessoas, falando comigo. Em instantes voltei ao meu realismo sufocante. Vi meu carro com a porta aberta, as luzes ligadas e aquele olhar tão penoso, tão espantado e tão inocente. O que eu via era a vida me olhando. Estou tão constrangida, tão empoeirada sobre as consequências. Que inferno me aguardava?
Através do dificultoso caminho, eu chegara a profunda incisão de retornar ao meu carro. E na minha grande dilatação, eu estava no deserto. Minha entrada nele se fizera enfim.
Não sei o destino dos animais, mas em repulsa a este corpo, minha alma se estende ao desconhecido. E hoje, ainda estou no deserto. Nessa loucura promissora. Só não queria assustar ninguém por ter saído do regulamento.
E que eu, numa experiência pela qual peço perdão a mim mesma. Eu estava saindo do meu mundo e entrando no mundo.
Eu não matei aquele meu cãozinho. Eu me assassinei. E com mal-estar, estou fugindo da vida hoje. Somente hoje. Preciso me recuperar.
Muitos disseram: Era apenas um cachorro!!
Seus vermes!! Não ousam me dizer mais nada!!!

sábado, 20 de setembro de 2008

"eu" aspas a esquerda e direita de mim.

Eu uso salto, eu remo, vou a show de rock, trabalho, choro, sinto raiva, xingo no transito (com os vidros fechados), falo muita besteira, tenho tesão e tédio.
Mas vê, meu amor, a verdade não pode ser má. A verdade é o que é - exatamente por ser imutavelmente o que é, ela tem de ser a nossa grande segurança. É meu ato de consumição própria.
Mas, ainda sou aquilo que em mim não é - Sou aquilo que sou com você. Por você, somente por você. E me nego ao próprio neutro sendo aquilo que não sou em mim.
E eis que a mão que eu segurava me abandonou - prazer. Eu é que larguei a mão, pois tenho de ir sozinha.
Piedade: é ser filho de alguém ou de alguma coisa. Nos comemos em riso de dor - e livres.
Ah, meu desejo seria o de interromper tudo isto e inserir neste difícil relato, por pura diversão e repouso.
Uma historia ótima que ouvi outro dia sobre o motivo que um casal se separou. Ah, conheço tantas historias interessantes. E também poderia para descansar, falar de tragédia.Conheço tragédias.
Assim como, conheço historias de amor vividas, intrínsecas e transgressa.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ins-piração religiosa.

Se minha vida se transforma em ela-mesma, o que hoje chamo de sensibilidade não existirá.
Será chamado de indiferença.
É como se daqui a milhares de anos finalmente nós não formos mais o que sentimos e pensamos: teremos o que mais se assemelha a uma atitude do que a uma ideia.
Desconhecendo palavras, ultrapassando o pensar que é sempre grostesco.
Não é um estado de felicidade. É um estado de contato.
Tenho avidez pelo mundo, tenho desejos fortes e definidos, hoje estarei batizando uma criança, na igreja de São Sebastião, não usarei o vestido azul, que antes havia planejado, usarei o preto e branco, dançarei e comerei. Mas, ao mesmo tempo, não preciso de nada, e aquela pureza toda da igreja começa a me incomodar.
Estou de modo que prescinde de tudo - e também de amor, da natureza, de objetos. Prescinde de mim esse modo. Embora quanto aos meus desejos, a minhas paixões, o eu contato com uma árvore, eles continuam sendo para mim como uma boca comendo.
E para meu espanto, estou caminhando, hoje, em direção ao caminho inverso. Caminho à direção do caminho que construí, caminho para a despersonalização.
E terei de me purificar nesse lugar. Antigamente, purificar-me significaria uma crueldade, contra o que eu chamava de beleza. e contra o que eu chamava de "eu", sem saber que "eu", era um acréscimo de mim.
Será preciso muito mais "purificar-me", para inclusive não querer o acréscimo doas acontecimentos. Só que será preciso ainda tomar cuidado para não fazer disto mais do que isto, pois senão não será mais isto. A essência é de uma ignorância pungente de mim.
Quando se realiza o viver, pergunta-se: mas era isto? E a resposta é: não é só isto, é exatamente isto.
É que em gloria eu me sinto vazia. EU sempre tive medo de ser fulminada pela realização, eu sempre havia pensado que a realização é um final - e não contara com a necessidade sempre nascente.
Eu não fui batizada! Eu sempre fui condenada pelas ideias nascentes, dessa mente que transcende.
E não caminharei de pensamento em pensamento. Há uma experiência de gloria na qual a vida tem o puríssimo gosto do nada. Eu não quero ir, mas tenho que ter honradez, eu não quero olhar em teus olhos, pois teria muito medo de confessar-te minhas ideias. Tenho muito medo de Ti.
A perda de tudo o que se possa perder e, ainda assim, ser.
Tenho que entrar com minhas características? Ou me despersonalizar contra a grande objeção de mim mesma? A maior exteriorização a que consigo chegar?
Estarei ai, na sua casa. Mas, apenas em imanência, porque só alguns atingem o ponto de, em nós, se reconhecerem. E assim, me revelar.

sábado, 6 de setembro de 2008

MORAL DA MINHA HISTÓRIA

Quem conhece um pouco de mim, sabe que a três anos passei por uma cirurgia complexa e imprevisível. Estou aqui, viva e cultivando as coisas simples que amo. Por questões politicas, consegui em apenas 2 dias estar no melhor (pelo menos à mim, é o melhor) hospital de referencia em reabilitação do país. O Sarah Kubischeck em Brasília. Fiquei internada por 15 dias entre internação e recuperação. Foi um milagre para a medicina eu ter recuperado todo o problema nesse espaço de tempo. Tive grandes admirações por parte da equipe medica e, hoje, faço parte de um grupo pequeno de pessoas no mundo, que tiveram tamanha recuperação e, sem sequelas ou traumas. Estaremos indo em Outubro à Boston, à Conferencia Mundial de Saúde. Seremos apresentados a uma comissão, e nossos casos, expostos para estudos posteriores e pesquisas. Isso não é demais??? Bem, à vista de muitos sim. Para mim, não vejo muita honras, não gosto desse fardo de honras, não vejo meu caso como algo fenomenal, admirável. Considero como uma fase de dor, desajustes, desarmonia, que foram transitórios. Não há um sofrimento eterno em nenhuma parte desse universo. Há seres que sofrem maior ou menor espaço de tempo, dependendo da natureza de seu equivoco. Quem ainda não pode visitar o Hospital, que o faça em alguém momento. Eu, por questões politicas, pude escolher o apartamento que queria ficar. Lógico que me colocaram em algo confortabilíssimo (por questões politicas), mas não era o lugar que eu me sentira bem. Eu precisara de estar com as pessoas, de -las, senti-las. Numa tarde, pedi à chefe de enfermeiras, que eu precisava ficar na Ala aberta, juntos com pessoas, que eu era uma tagarela e para minha recuperação, isso seria mais que necessário. Atendido o pedido. Yes!! Era la mesmo que eu desejava estar. Ao meu lado tinha uma mulher de uns 46 anos, Maria de Fátima, professora do ensino médio, divorciada, trabalhava em Trindade, interior de Goiás. Estava ali porque não conseguia andar, e a equipe medica não sabia o que fazer, pois não encontraram nada em seu corpo, que justificasse a ausência de deambular. Deixaram-na por mais dez dias com a equipe de Terapeutas (como se chamam os psicólogos de lá). Pois bem, ficamos amigas, eu quase não podia enxergar nos primeiros dias. Tudo era vulto, mas sem dor alguma. E aquela mulher me deixava intrigada com seu mundo fisiológico, com sua deficiência orgânica, que dentre todos os melhores exames de ultima geração, nada encontrara. Eu podia andar, mas não enxergava, ela enxergava e não andava, estava num leito a minha direita. Eu podia ver os prédios, o jardim, o prédio dos Correios, sentir o vento, que primeiro me cumprimentava e levava meu cheiro, minhas angustia do desconhecido. Ao meu lado, estava ela, com sua angustia, desespero. Para comer era um sacrifício desgraçado, pois o horário das refeições, ela precisava de ajuda, e muitas das vezes, tinha eu para ajuda-la. Sempre fui muita sapeca, moleca. E comecei a sacanear com ela. Como eu andava, pegava sua refeição e colocava a distancia dela, tomava seu cigarro. Isso cigarro. No Sarah é liberado, se o paciente fuma, seu direito é preservado! E deixava no criado do meu leito. O esforço dela era dobrado. No inicio ela aceitou, depois reclamava aos médicos. Eu negava que fazia aquilo. Certo dia, em sua abstinência por seus cigarros, fiz com que ela levantasse, se apoiando no leito. Ela me xingava, falava que pediria para me trocarem de lugar, que não aguentava aquela situação que eu causava a ela. Que estava com problemas na perna et cetera. No sexto dia, ela dava seus primeiros passos e esquecia que, suas pernas doíam, ela simplesmente, levantava e a pequenos passos, chegava ate o maço de cigarros no criado do meu leito. Começou a dar passos e não percebia que aquilo era, psicológico. Um distúrbio, que seu organismo apenas recebia o que sua mente emitia. Aos pouco foi-se criando uma mentalidade, que os Terapeutas, de longe, perceberam, minha atitude e a dela.
MORAL DA MINHA HISTORIA

Eu, com minha molecagem, fiz com que ela tivesse coragem. Eu lhe transmitia coragem, vontade de realização.
Ela, com sua tolerância em aturar minhas molecagens, partilhou metade da minha tristeza. Eu me sentia feliz em -la andando, em leva-la para a varanda para que pudesse fumar seus cigarros e fazê-la rir das minhas bobagens que contava. Eu me sentia rica, contava todas as coisas que eu tenho que o dinheiro não pode comprar. Ela ria muito, e eu partilhava a felicidade, em fazer os outros felizes, apesar dos meus problemas. Saudade da Maria de Fátima.

Ela

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Uma estrela, uma flor, um aprendizado.

O Pequeno Príncipe sentou-se numa pedra e ergueu os olhos para o céu:
- As estrelas são todas iluminadas...Será que elas brilham para cada um que possa um dia encontrar a sua?
Olha o meu planeta. Está bem em cima de nós...Mas como ele está longe!

- Teu planeta é belo - disse a serpente. - Que vens fazer aqui?
-Tenho problemas com uma flor - disse o Príncipe.
-Ah! -Exclamou a serpente.
E se calaram.

- Onde estão os homens? -Tornou a perguntar o Principezinho. - A gente se sente um pouco só no deserto.
- Entre os homens a gente se sente também um pouco só - disse a serpente.
O Príncipe a olhou-a por um longo tempo.
- Tu és um bichinho engraçado - disse ele. - Fino como um dedo...
-Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei -disse a serpente.
O Príncipe sorriu.
- Tu não és tão poderosa assim... Não tens nem patas...não podes sequer viajar...
- Eu posso te levar mais longe que um navio - disse a serpente.
Ela enrolou-se no tornozelo do pequeno Príncipe, como se fosse um bracelete de ouro.
- Aquele que eu toco, eu o devolvo a Terra de onde veio - continuou a serpente.
- Mas tu és puro e vens de uma estrela.

O Principezinho não respondeu.
- Tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito.
Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu Planeta Posso...
-Oh! Eu te compreendo muito bem - respondeu o pequeno Príncipe. Mas por que falas sempre por enigmas?

- Eu os resolvo todos - disse a serpente.
E calaram-se os dois.

Passagem do livro: O PEQUENO PRÍNCIPE. Relendo pela nona vez.