quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quando se perde o que não é seu

Como sempre, as lições dos fatos variará conforme a conveniência de cada intérprete.
Há uma serenidade tão grande em tudo, que a minha alma parece que decanta. E essa semana que nos separou, sinto no fundo de mim uma grossa camada de lama que andava misturada com meus pensamentos e os meu atos. Mas essa serenidade toda não me parece tão fina, tão penetrante, compreende a minha agonia, porque, pelas alegrias da vida pagamos tão caro, que não sei se seria melhor que fôssemos sempre infelizes.
Domingo, faleceu uma amiguinha do meu filho, estudaram juntos por 3 anos. Yasmim. E assim murchou seu nome e suas células.
Eu não poderia deixar de sofrer, adoro sofrer, chega a ser um despreparo. Minhas consultas são tão dolorosas e sei que estou numa profissão errada. A perda da flor me fez pensar um milhão de vinganças impossíveis e voltei-lhe com ódio da morte que durou quase um minuto.
Uma das coisa que mais tem me deixado por momentos feliz é dirigir e pedalar, mas eu estava dirigindo e parei para abastecer. Parada ali, fiquei assistindo a demolição de uma parede de tijolos antigos por uns 30 homens, esperei que demolissem ate o último tijolo da última parede e, sai com a sensação de que dentro de mim, também fora demolido.
Sei que é inútil essa minha vergonha póstuma de se apegar, desesperadamente, pelo tremendo impulso da existência aos filhos. É sentir o caixão ao próprio corpo. É sabe que já não há quem tenha prazer em passar a mão em sua pele. É esquecer de coisas importantes e lembrar, sem saber por que, um gosto, um sorriso, uma braveza, suas palavras há tempos esquecidos ficarão. É sentir de repente o isolamento...E esse estado é não ter vez nem misericórdia...É ficar amedrontado...sem as esperanças...

4 comentários:

Beth disse...

Essa semana ao assistir uma reportagem sobre Gabriel Buchmann, observei detalhes sobre o ultimo lugar visitado por ele. Ali as pessoas comem, por necessidade ou costume cultural, churrasco de rato. Ali poderia ser aqui, ou acolá, ou mais adiante; logo ali na esquina. E, apesar da emoção, me vejo cada vez mais equidistante dos dramas que me cercam.
Não posso evitar que crianças morram, que familias inteiras sofram, que paises não morram de fome e de peste; mas posso cuidar do universo pessoal que me cerca sabendo que é perene em matéria e ad eternum em espirito. E assim me preparo a cada nascer de sol ou a cada grande tempestade para o que está por vir.
Não há nada mais importante para mim do que um computador desligado, um beijo do meu benhê, a voz da minha mãe, os resmungos do meu pai, os latidos dos meus cachorros e a visita inesperada do meu afilhado, as quinzenas do meu sobrinho. E ainda assim, sem culpas, pego o carro e saio por ai em direção a Petrô, Terê ou Friburgo em apenas um dia. Logo mais a frente vejo uma placa escrita Itanhandu...talvez eu pare por lá para beber uma cachaça.

Beijos Luz chamada Jullie

POEIRAS AO VENTO disse...

Beth...Utanhandú...voce realmente me leva sempre para o lugar que eu quero morrer...Ahh, como queria Itanhandú novamente me minha vida...Como quero!!
Beijos linda. amei a mensagem, poderia ser um post.

Adao Braga disse...

Doi em mim em saber tal acontecimento.

Beth disse...

Nada de post´s amore! Gosto de ser egoisticamente tua. :) Mas também não é indiferença ao mundo ou aos dramas e tragédias do mundo, mas uma forma de acreditar de que há um mundo que se faz mais próximo de mim e que fará parte de um outro mundo equidistante; no momento se faz necessário a semente ser plantada.
De resto? Eu hoje acordei, depois de passar um dia passeando em Friburgo, querendo ver o mar.

Itanhandu? Me deu saudades de algo para o qual não liguei a seta da esquerda do meu carro. Preciso sinalizar que entrarei a esquerda mais a frente.

:)
beijos

PS: Amore...pós gripe suina...ou no meio dela...amanhã retornam as aulas, estágio e blá blá blá! Até breve amore! A gente se encontra por ai ... meu universo me chama.