terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Na véspera de nada

Cada ultrapassagem na estrada é uma roleta-russa: a nuvem de poeira atrás de um caminhão se estende por quilometros, é necessário arriscar-se à entrar dentro de um voo cego e torcer para que um dos outros, talvez uns dez caminhoes que seguem em comboio, não venha justamente em sentido contrario e acabe com minha aventura solitária.

Pela segunda vez, confessando a imperícia no guindon da motoca...À noite atravessando o Rio Madeira, de forte correnteza, numa canoa motor de popa,para dar uma volta em Guayará, na Bolívia. Ninguém pergunta nada na ida ou na volta, poderia ficar rica trazendo outro pó em vez do pó que peguei na estrada.

E no corpo existe a raiva que sai do cansaço, a dor nas minhas pernas...sinto saudade, dos braços que deixei de sentir o quão forte são quando necessários...to com saudade de mim, sem êxtase nenhum da morbidade que antes existia.
Há saudades no meu cérebro de certas coisas que me ocupavam por fora.

Sinto saudades do meu marido

E da natureza permeável no tempo que eu viajava mais, com as sensações interna do cérebro.

E o que tenho comigo? Apenas a magoa. Nem mesmo sei se é isso.

No dia seguinte, mesma estrada de volta: Preciso pegar o voo que sai as 12:00 horas do aeroporto internacional (só não pousa voo internacional...????...por que é internacional?) rumo a São Paulo, pois acho que perdi minha inscrição na USP e o curso de acessibilidade.

Pesquiso no google o poema de Fernando Pessoa e aqui deve celebrar algo em mim:

PALAVRAS AO PÓRTICO"

" Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso, viver nao é preciso"
Quero pra mim o espirito desta frase, transformada a força para casar com o que eu sou: "Viver nao é necessario, o que é necessario é criar"
Nao conto gozar a minha vida; nem em goza-la penso. Só quero torna-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torna-la de toda a humanidade, ainda que para isso tenha de perder como minha.
Cada vez mais penso. Cada vez mais ponho na essencia anímica do meu sangue e proposito impessoal de engrandecer a patria e contribuir para a evoluçao da humanidade.
É a forma que emmim tomou o misticismo danossa raça.
Fernando Pessoa

Um comentário:

Adao Braga disse...

Inveja! Vontade não falta, o que falta são outras coisas.

Me lembrou certa vez que eu e Kátia fomos ao Morro do Chapeu. Ela fez algo parecido.

A história do pó, eu conheço outra história de uma senhora que passava todos os dias numa lambretas e com um saco de areia na garupa. Investigaram a cansar, e não descobriu o que ela traficava. Até que alguém perguntou, o que é que ela levava nas lambretas todos dias.

- Nas lambretas? Nada! Eu levo as lambretas pra lá e volto de trêm!