segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As imaginações que assustam

 Pensei em uma festa de fim de ano em que eu reunia todas as pessoas que eu tive ou que nao as tenho mais. Pessoas que vivi, pessoas que me viveram. Fiz um coquetel de carinho, gratidao e raiva. Tomaria tudo e ofereceria aos convidados um percentual da minha saliva, tudo numa entretroca. E a imaginaçao continuava a ferir, coloquei nesta festa, todas as empregadas que ja tive na vida. Pelo menos as que eu lembro. Para elas, dei uma cadeira para que sentassem. Para as que esqueci, manteria a ausencia com a cadeira vazia, assim como estao dentro de mim. Meus convidados masculinos alguns de ternos de marcas outros sem marcas nem ternos, mas em sintonia com os demais, se nao fossem suas bocas mudas e seus corpos presos em si mesmo. Mudos, como os invisiveis que passam por eles, assumidamente ditos  normais, em seus dia a dia. Nao esqueci os PNE, me sao tao necessarios cita-los, nao por misericordia, mas por todo respeito. E todos estavam na mesma festa, repito: mudos, engessados. Somente presenciando o momento com seus olhos, unicos permitidos a navegar em proprio globo. As damas estavam sentadas com as duas maos sobre as coxas, num ato delicadissimo, com os olhos arregaladissimos tambem pois foram mais rapidas que seus cavalheiros a perceber meu veneno. Os cavalheiros em extase prisional sem entender o momento seguinte. Eu dançava, sorria, penetrava o olhar. Somente eu pudera mover, sentir o vento e a liberdade. Eu sou o veneno com que se nasce e roí a vida. Eu possuia o desejo real aos meus convidados. Mudos, engessados, enlouquecidos pela prisao humana. Na mais escura ignorancia.Com fomes e risos que eu olhava para aquelas pequenas mortes alimentando a minha vida inevitável. Eu percebia nos olhares dos meus afetos imoveis, que era somente eu que eles tinham naquele momento. Pelo menos uma vez, ou pela ultima vez, todos deveriam me amar, sem ter nada, sem ser nada. E tudo deveria ser pelo estado dos corpos naquele momento. Tinham apenas a mim. Obrigados a iniciar-se amando o ruim, a feia, a impura, a louca.
O presente final da festa, era dado a sensaçao que se tem os passarinhos quando fechados na concha das maos humanas. O passarinho se debate todo, perde-se as penas, os olhos quase sangram. E nós humanos temos a opçao de liberta-los ou prendermos em uma gaiola.
Presente a todos que estiveram nesta festa: Que sintam o desespero abafado de estarem preso em si mesmo. Aprendendo assim, como se ama ou, como se fazer amar os diferentes.

4 comentários:

Adao Braga disse...

Eu estive ai, só que olhando de um lugar a meio metro de toda esta movimentação!

Anônimo disse...

pqp fiquei atormentado nega

Carlos Grassioli disse...

Muitas vezes, antes de passar a limpo o presente,precisamos passar a ferro o passado como também, muitas vezes, é passando a ferro o presente, que passamos a limpo o passado, o que significa, pra mim, já sessentão, deixar o passado lá...no passado!
Adorei a festa " nada modesta"( e nem poderia ser), sobretudo a alegoria.
Valeu Julie, uma braço do Tio da Fatimística, nem tão exotérico assim,.

Fátima Camargo Alegretti disse...

...e eu, assistindo a tudo, tentava segurar meus pés sujos e descalços que teimavam em dançar ao som da tua poesia...
Bjão
Fatima