E não falo somente do "dar" em valores, objetos. Um simples e caloroso gesto de doar-se em palavras, já alivia a alma e acalenta o desejo de continuar nesse mundo revolto, mutante, fragmentado.
O que eu vivi arrebenta minha vida diária. Desculpa eu te dar isto, eu bem queria ter visto e ouvido coisa melhor. E você tomou o que vi, livrou-me da minha inútil visão e pecado inútil.
Sentei-me ao lado de bandidos - eram todos do Estado de SC - meninos jovens, cabeça raspadas, algemas para trás, a mais de três horas sentados com a bunda quadrada (penso eu), aguardando para ser ouvidos pela promotora de acusação e juíza da Vara Criminal. E cometi o crime!
Meu crime não possui promotores, juiz nem algemas - apenas palavras de uma verdade que não faz sentido. Essa grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive, veio no entanto me deixar carente, como uma criança.
Tão carente que só o amor de todo universo por mim poderia me consolar e cumular. Sinto que uma primeira liberdade está pouco a pouco me tomando...Pois nunca ate hoje temi a falta de bom gosto.
Meu coração se inclina humilde e eu aceito. Mas, será esse meu ganho único? Quanto tempo precisei viver presa para sentir-me agora mais livre, somente para não mais recear minha falta de estética e postura, ao sentar ao lado de bandidos.
Eu me pergunto: se eu olhar a escuridão com uma lente, verei mais que a escuridão? a lente não devassa a escuridão, apenas a revela ainda mais.
Essa casa onde em semiluxo eu vivo, é capaz de alargar em silencio e provocar acontecimentos.
Sou agradável, tenho amizades sinceras, e ter consciência disso, faz com que eu tenha por mim uma amizade aprazível, o que nunca excluiu um certo sentimento irônico por mim mesma, embora sem perseguições.
Mãe, viver não é coragem!
Saber que se vive é a coragem!