Há uma serenidade tão grande em tudo, que a minha alma parece que decanta. E essa semana que nos separou, sinto no fundo de mim uma grossa camada de lama que andava misturada com meus pensamentos e os meu atos. Mas essa serenidade toda não me parece tão fina, tão penetrante, compreende a minha agonia, porque, pelas alegrias da vida pagamos tão caro, que não sei se seria melhor que fôssemos sempre infelizes.
Domingo, faleceu uma amiguinha do meu filho, estudaram juntos por 3 anos. Yasmim. E assim murchou seu nome e suas células.
Eu não poderia deixar de sofrer, adoro sofrer, chega a ser um despreparo. Minhas consultas são tão dolorosas e sei que estou numa profissão errada. A perda da flor me fez pensar um milhão de vinganças impossíveis e voltei-lhe com ódio da morte que durou quase um minuto.
Uma das coisa que mais tem me deixado por momentos feliz é dirigir e pedalar, mas eu estava dirigindo e parei para abastecer. Parada ali, fiquei assistindo a demolição de uma parede de tijolos antigos por uns 30 homens, esperei que demolissem ate o último tijolo da última parede e, sai com a sensação de que dentro de mim, também fora demolido.
Sei que é inútil essa minha vergonha póstuma de se apegar, desesperadamente, pelo tremendo impulso da existência aos filhos. É sentir o caixão ao próprio corpo. É sabe que já não há quem tenha prazer em passar a mão em sua pele. É esquecer de coisas importantes e lembrar, sem saber por que, um gosto, um sorriso, uma braveza, suas palavras há tempos esquecidos ficarão. É sentir de repente o isolamento...E esse estado é não ter vez nem misericórdia...É ficar amedrontado...sem as esperanças...